O DIÁLOGO DA COR
Antonio Gonçalves Filho
Albers dizia que raramente vemos o que uma cor é fisicamente. Ele não se referia exclusivamente ao fenômeno físico, mas à natureza da cor. Como um professor disciplinado como Albers poderia, então, ser tão preciso em seus exercícios cromáticos, se sua natureza romântica o fez autor de uma pintura inconfundível e subjetiva? É uma questão sobre a qual muitos críticos se debruçaram. Regra geral, o que se diz dele é que Albers nunca renunciou ao apelo emocional da cor. Herdeiro do construtivismo, ele escreveu que esquecemos facilmente que regras a serem aplicadas à forma e à cor mudam e desaparecem conforme a moda, mas que também o desenvolvimento visual muda na mesma proporção e frequência.
Atenta às lições de Albers, a pintora Lúcia Glaz mostra em sua nova série de pinturas um desejo de explorar novos fenômenos perceptivos, considerando o potencial expressivo da cor em sua interação com a forma. Na mesma direção dos artistas da geração pós-pictórica (Robert Ryman, Agnes Martin, Brice Marden), descontada a distância geracional, a pintora tende a ver a pintura como objeto, e não como ilusão, perseguindo uma redução purista que foi também a meta dos citados artistas ao restringir ao essencial suas experiências na tela. Com isso enfatizaram suas qualidades formais e a bidimensionalidade do plano pictórico, conquistando críticos como Clement Greenberg nos anos 1960.
Meio século depois, em plena era da web art, em que os espectadores não são mais observadores passivos, mas interativos, retomar a direção da geração pós-pictórica parece mais uma utopia, uma reação à paleta de cor hexadecimal do computador e à impessoalidade tecnológica. Vale lembrar, contudo, que a tinta acrílica é também uma invenção contemporânea, fruto da sociedade industrial, e que nem por isso aboliu do mundo a expressão, a despeito de ter nascido num contexto em que reinavam a arte concreta, da qual a pintura de Lúcia Glaz igualmente deriva. O amadurecimento ideológico, porém, não mais permite que esses ideais, circunscritos a uma época, sejam simplesmente repetidos. Não existem mais grupos, só indivíduos que fazem arte. A novidade é irrelevante para a arte, como enfatizou o teórico George Rickey. O que fica não é a visão doutrinária, mas a experiência pessoal de cada artista. E a de Lúcia Glaz se dá dialeticamente, respeitando a história.
Esta exposição da artista, ‘O Diálogo da Cor’, tem, portanto, o compromisso de atualizar questões como os fenômenos de vibração cromática e o contraste das cores numa época em que predominam as cores eletrônicas. Como se dá a percepção visual e como se desenvolve a sensibilidade colorística fora da tela do computador? Como universalizar nossa experiência de ver de forma concreta as cores? São perguntas que as telas de Lúcia Glaz suscitam, buscando ansiosamente uma resposta.
- Texto: Antonio Gonçalves Filho
- Abertura: 25 de Setembro – 17h
- Exposição: 25 de Set. à 13 de Out.
- Horário: Seg à Sab 10h às 21h – Dom 15h às 21h
- Local: CasaShopping – Barra da Tijuca