Fisgas
A Poética da Captura
Enquanto o Brasil arde em chamas e as populações nativas são dizimadas por um vírus provocado pela ganância do homem branco, Gaia nos traz o Pará… a ancestralidade, a voz dos povos indígenas, a capacidade de se articular, se integrar e criar beleza e poesia através das coisas simples da natureza.
A poética da captura “FISGAS” é antes de tudo beleza e denúncia, beleza e chamamento, beleza e reencontro com as nossas qualidades verdadeiras, com a capacidade intrínseca do ser humano de criar poesia, arte e sensibilidade através de uma clara geometria, de uma clara elaboração formal sem os preceitos determinados por um modernismo caótico e cruel que acabou levando o ser humano ocidental a quase destruição do planeta.
Gaia nos traz um alento, uma mensagem e uma denúncia. Através dessa “captura” ele fala muito mais de caça e pesca, ele fala de sobrevivência, de resistência e de integração real da arte com a vida. Somos caça e caçador, peixe e pescador, somos a isca, somos o anzol e a linha, somos a capacidade de entender a natureza e com ela convivermos como parte integrante de um biosistema complexo e extraordinário.
A arte nesses tempos que se anunciam não será nunca mais a arte dos tempos passados, aquela que ingenuamente acreditou que, através da indústria do crescimento acelerado, poderíamos chegar a um momento de bem-estar e de harmonia. A arte verdadeira, a arte que artistas sensíveis e inteligentes como Gaia anuncia, é uma arte comprometida com o mundo, comprometida com a natureza, comprometida com a capacidade do ser humano entender a nossa ancestralidade, entender a beleza intrínseca da Amazônia, a beleza intrínseca de um estado poderoso, cheiroso e feliz como Estado do Pará.
Gaia nos apresenta com pétalas e violência a beleza e o impacto da arte verdadeiramente brasileira, essa Pindorama que precisamos recuperar para sermos dignos da terra em que habitamos.
Marcus de Lontra Costa